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Opinião: G20 ou COP29, o Ocidente continuará escolhendo a política em vez do clima

Em novembro, os ativistas do clima ficam animados com a realização da Conferência das Partes (COP) da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC). Este ano, a COP (29ª edição) será realizada em Baku, Azerbaijão, de 11 a 22 de novembro. O mês também verá a Cúpula do G20 em 18 e 19 de novembro no Rio de Janeiro, Brasil. Com o G20 também focado no desenvolvimento sustentável e nas mudanças climáticas, há todos os motivos para que as expectativas sejam aumentadas.

Em 2021, o G20 se reuniu na Itália pouco antes da COP de Glasgow, e seria justo supor que a pressão do G7 dentro do G20 por “Net Zero até 2050” fez com que China e Índia também assinassem o compromisso de Net Zero, embora para 2060 e 2070, respectivamente.

NCGQ: O próximo “grande” objetivo

Entre as principais prioridades do Brasil no G20 estão “transições energéticas e desenvolvimento sustentável”. Eles já estabeleceram a Força-Tarefa do G20 sobre Mobilização Global contra a Mudança Climática. Além disso, eles sediarão a COP em 2025, onde as Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) atualizadas (a data prevista para envio é o início de 2025), as metas voluntárias sobre ação climática adotadas por todos os países, estarão sujeitas a um balanço global.

O item mais importante em Baku é uma Nova Meta Quantificada Coletiva (NCQG) sobre financiamento climático. Na COP de Copenhague em 2009, os países desenvolvidos concordaram em fornecer US$ 100 bilhões por ano para ação climática para países em desenvolvimento. Uma década e meia depois, e após esticar os dados por todos os tipos de inclusões, a OCDE agora declarou que os países em desenvolvimento atingiram sua meta em 2022. Voilá!

Em sua COP em Paris em 2015, a UNFCCC concordou que uma nova e coletiva meta de financiamento quantificada – não compromissos individuais de cada país – seria estabelecida. Na década desde então, várias questões importantes permanecem paralisadas, incluindo o número elusivo para o NCQG que os países em desenvolvimento querem saber e estão pedindo. A Índia pediu US$ 1 trilhão por ano, e os azeris propuseram US$ 6 trilhões até 2030.

As nações desenvolvidas não assumirão a responsabilidade total

Além disso, há outras questões críticas não resolvidas, incluindo quem contribuiria para isso. É improvável que os países desenvolvidos concordem que é responsabilidade deles somente, colocando a China – corretamente – no tapete, mas também pressionando grandes países em desenvolvimento como a Índia a embarcar no lado contribuinte.

As eleições presidenciais serão realizadas nos EUA em 5 de novembro e, nesta fase, o ex-presidente Donald Trump tem uma chance igual de voltar. Em 2016, logo após se tornar presidente, ele retirou os EUA do Acordo de Paris de 2015 sobre mudanças climáticas. Isso apesar de Paris atender à condição-chave dos EUA de abandonar o princípio cardinal da UNFCCC de responsabilidades comuns e diferenciadas e pedir a todos os países que apresentem NDCs. Anos antes, os EUA não haviam ratificado o Protocolo de Kyoto sobre reduções quantificadas de emissões por países desenvolvidos.

Embora a ambivalência dos EUA em compromissos internacionais para a mudança climática seja conhecida, os europeus, que se projetam como campeões da ação climática, agora estão prevaricando também, com cortes em suas ações domésticas e movimentos comerciais, tudo para penalizar os países em desenvolvimento sobre suas exportações para a União Europeia (UE) por excederem os limites de carbono predeterminados nos produtos. O estresse em suas economias e segurança energética resultante do conflito Ucrânia-Rússia são as razões articuladas para o recuo europeu no clima. Mas seu impulso se junta aos EUA na fuga de responsabilidades históricas e de capacidade e na tentativa de transferir o fardo da ação climática para grandes países em desenvolvimento.

Política e clima não podem ser divorciados

A reunião do G20 é uma cúpula e espera-se que os países-membros participem no nível de chefes de estado ou governos. Mas não importa seu foco econômico, ela está entrelaçada com a política, como evidenciado pelas referências ao conflito Rússia-Ucrânia sendo o ponto decisivo de suas declarações em Bali e Nova Déli. O presidente russo Vladimir Putin não compareceu às cúpulas do G20 em Bali e Nova Déli, mas os brasileiros têm sido públicos em sua insistência por sua presença no Rio. Eles estão similarmente buscando o presidente Xi da China.

Os brasileiros têm diplomatas ases, mas conciliar seus interesses nacionais, hemisféricos e globais pode ser uma tarefa difícil. De fato, com a Ucrânia sendo central para a preocupação de sua administração, o Rio poderia ver o presidente Biden se desculpar? Em todo caso, com as eleições nos EUA marcadas para 5 de novembro, Biden será de qualquer forma um “interino” até janeiro de 2025.

Em Copenhague, o ex-presidente dos EUA Barack Obama havia se oposto a US$ 30 bilhões por ano até 2030 como meta de financiamento de curto prazo, afirmando que os orçamentos eram domínio do Congresso. O mundo então recebeu a expressão “aproximando-se” de US$ 30 bilhões. A equipe dos EUA em Baku teria uma saída ainda melhor. Em tais circunstâncias, é compreensível que os países possam não revelar suas mãos climáticas neste outono. A política triunfará sobre o clima? Só novembro dirá, mas a data-chave não é nem a COP nem a Cúpula do G20.

[The author is a former Indian ambassador to the European Union and a Distinguished Fellow, The Energy and Resources Institute (TERI)]

Aviso Legal: Estas são as opiniões pessoais do autor

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